quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

No fundo, somos meras recordações. A maneira mais bela de recordarmos os outros é sermos a pessoa que fizeram de nós. Somos pedaços de pessoas, pedaços de alma, pedaços de seres, novos e velhos, que nos deram a mão em alguma estrada da vida. Como diz Saint-Exupéry, “aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Partimo-nos a cada momento. Cada gesto deixa uma leve marca no tempo. Leve? No tempo sim, mas duradoura. Começamos a pensar por nós próprios, a agir com consciência, a crescer… E apercebemo-nos que apesar das escolhas, fomos moldados por outras mãos, algumas mesmo desconhecidas. E sentimo-nos orgulhosos com o que atingimos, com as diversas lições de vida que fomos aprendendo ao longo destes anos todos. A idade começa a ser um posto. E deixámos de ser a criança curiosa para nos tornarmos no responsável adulto. É inevitável. A constante aprendizagem desacelera. O que antes andava a mil é obrigado a quedar-se para os cem. Não. Agora, continuamos a aprender mas somos incumbidos de ensinar, de fazer parte, de ser exemplo. E ser exemplo custa. Porque apesar do orgulho daquilo que atingimos e da vaidade na sabedoria, ensinar tudo o que achamos correto não se limita apenas às nossas ações, mesmo elas falíveis. Mas essa dificuldade não tem de ser um obstáculo inultrapassável. O importante é não ficar parado. Tentar passar por cima, não conseguir, errar. Procurar ir à volta, perceber que não tem fim, parar. Olhar para trás, procurar soluções, encontrar. Ser mais. Ser maior. Ser maior ainda que o obstáculo! E ser grande. Grande naquilo que se faz, que se entrega. Ser inteiro. Passam dias, meses, anos. Mas é possível. E era só isso que interessava. Possível. E seguimos em frente. As recordações lá ficam. É a vez delas.