segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Há bastante tempo que não te escrevia. Aliás, há bastante tempo que não me escrevia, de todo. Há pessoas com uma imensa necessidade de o fazer. Outras que preferem levantar-se da cama ao domingo de manhã ao invés de palavrear um papel. Há-as para todos os gostos. E eu no meio, nessa linha ténue entre o fugir, a vontade e a necessidade.

Porque há motivos. E hoje o motivo é ainda nem sei bem talvez uma certa ponta de desilusão. Parece-me um bom motivo para começar algo que nem sei por onde.
Sei quem sou, sei ser feliz, sei os caminhos corretos a percorrer. E descobri-os a custo, com muita ajuda e muita cabeçada. Esta ainda nem sei bem talvez uma certa ponta de impotência prende-se com o facto de olhar à minha volta e desconhecer por completo o quanto devo eu de me intrometer naquilo que devo. Ou não devo. É difícil perceber o quão se deve deixar viver e a altura de refrear as atitudes.
Olho à minha volta e vejo uma, duas, três, quatro, esquilhões... pessoas a fugirem, a afastarem-se, a não quererem saber. A crescerem longe, a aliarem-se à mesquinhez, à falsidade, à leviandade. A tornarem-se escravas de atitudes que elas próprias condenam e acabam por cometer. Condena, comete. Condena, comete, que ciclo vicioso.

Ainda nem sei bem talvez uma certa ponta de paciência acho que é isso que é preciso. Gaba-se o deixa andar tal como se gaba a imposição. E a imposição torna-se hipótese porque foi roubando força ao deixa andar que pouco demonstrou. O que não foge ao olhar são as sucessivas falhas, as sucessivas dores porque não se soube ser o que se dava a conhecer aos poucos.

Acho que já sei decerto um certo inteiro de incapacidade para parar, pensar, refletir. Mais do que isso, e pior talvez, é a vontade de fugir ao que nos deixa os ouvidos em ferida. E o resto depois. Sim, é essa a doença deles.
Uma linha ténue entre o saber quando devemos ser a mão que traz de volta ou a mão que se encolhe porque não tem nada a ver com isso.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

“Só porque pode haver uma consequência, não quer dizer que não haja uma escolha.
Nunca me ocorreu conhecer outros lugares. Toda a minha vida tenho sido exatamente a pessoa que todos esperam que seja. Nem sei aquilo que quero.”

Penso que o segredo reside exatamente nisso. Sermos capazes de fazer aquilo que quisermos. E aquilo que queremos realmente fazer corresponder ao que somos, ao eu ser. E esse eu como ser corresponder não com aquilo que os outros esperam de mim mas aquilo que eu quero para mim. E que isso corresponda com aquilo em que acredito, com os valores e os ideais que defendo. Assim torna-se fácil ser feliz. É ser aquilo que quiser ser e ser algo melhor para o mundo. Não é pôr em causa cada passo para tentar perceber se corresponde com o exemplo que devo ser mas sim ser exemplo esquecendo-me de cada passo que dou. E o reconhecer que se é exemplo não é fácil. Lembrando-me que posso ser e não ser eternamente responsável por aquilo que cativo, quando a intenção foge a sete pés do calculismo, sei que a consequência não pode nunca ser ignorada quando ela em si mesma não é mais do que um ponto final da escolha e, talvez, não só.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

No fundo, somos meras recordações. A maneira mais bela de recordarmos os outros é sermos a pessoa que fizeram de nós. Somos pedaços de pessoas, pedaços de alma, pedaços de seres, novos e velhos, que nos deram a mão em alguma estrada da vida. Como diz Saint-Exupéry, “aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Partimo-nos a cada momento. Cada gesto deixa uma leve marca no tempo. Leve? No tempo sim, mas duradoura. Começamos a pensar por nós próprios, a agir com consciência, a crescer… E apercebemo-nos que apesar das escolhas, fomos moldados por outras mãos, algumas mesmo desconhecidas. E sentimo-nos orgulhosos com o que atingimos, com as diversas lições de vida que fomos aprendendo ao longo destes anos todos. A idade começa a ser um posto. E deixámos de ser a criança curiosa para nos tornarmos no responsável adulto. É inevitável. A constante aprendizagem desacelera. O que antes andava a mil é obrigado a quedar-se para os cem. Não. Agora, continuamos a aprender mas somos incumbidos de ensinar, de fazer parte, de ser exemplo. E ser exemplo custa. Porque apesar do orgulho daquilo que atingimos e da vaidade na sabedoria, ensinar tudo o que achamos correto não se limita apenas às nossas ações, mesmo elas falíveis. Mas essa dificuldade não tem de ser um obstáculo inultrapassável. O importante é não ficar parado. Tentar passar por cima, não conseguir, errar. Procurar ir à volta, perceber que não tem fim, parar. Olhar para trás, procurar soluções, encontrar. Ser mais. Ser maior. Ser maior ainda que o obstáculo! E ser grande. Grande naquilo que se faz, que se entrega. Ser inteiro. Passam dias, meses, anos. Mas é possível. E era só isso que interessava. Possível. E seguimos em frente. As recordações lá ficam. É a vez delas.